Se tivesse assistido "Cake-Uma razão pra viver" no ano de seu lançamento, certamente lembraria dele como o filme que libertou Jennifer Aniston da Rachel e quase lhe rendeu um Oscar. Ou fizesse uma crítica técnica de como o filme com temas tão sensíveis, podia ter "aproveitado" melhor ricos contrapontos como, por exemplo a mexicana Silvana.
Mas estou em 2023.
E mais de 7 anos separam a narrativa do filme da pessoa que sou hoje, e de como recebi esse bolo cinematográfico.
Ele traz muito mais do que uma simples visão da mulher afundada na amargura de uma vida transformada pela dor e perdas. Ou de alguém que escolhe não mais estar ao lado do marido e filho por egoísmo. Ou a junção desses dois mundos por uma obsessão inexplicável.
Viver a dor crônica, que chega sem aviso prévio e causa um reboliço em sua vida não é meramente "viver com dor". É ter a vida transformada de maneira abrupta, é não se reconhecer no que te transforma. É sofrer ao ver o estrago que ela causa não só a você, mas a todos que estão ao seu redor.
É não se enxergar no espelho após anos de sofrimentos e privações. E se encontrar só, cercado de pessoas, até que elas acabem se afastando, ou que você as afaste por palavras, ações ou a falta delas.
Afastamento pelo cansaço, pela dor, pela exaustão, por impaciência e por amor.
É querer ver a vida com cores, mas ser lembrada a todo instante que o cinza tem mais de 50 tons e então voltar a enxergar monocromático, porque não tem a paz de uma simples noite de sono tranquila.
Claire há muito não existe. No seu lugar, a sombra da advogada linda e bem sucedida, a megera que afasta o amor de sua vida, o peso da maternidade que se auto denominou falha, a morta-viva entorpecida pelo que traz alívio imediato à sua existência.
Escolher não viver mais uma vida, que aos olhos dos outros é perfeita, não é escolha, é desespero! É querer não sentir mais angústia e dor em você, que respinga no marido e no filho. E no ato de desespero, não perceber que ele deixa um rastro de mais sofrimento incompreendido.
Senhores críticos de cinema e afins, a decisão dolorosa de Nina não foi sem razão aparente. Nunca será! Estar condenada a uma vida de dores incessantes enlouquece, rouba a sanidade e faz corpo e mente se desconectarem. Acreditem!
Engana-se quem pensa que há obsessão pelo ato de Nina por parte de Claire. Não há! No lugar disso, há busca por entendimento em onde ela conseguiu a força necessária para realizar.
A razão é clara e óbvia, mas Claire quer encontrar na sua busca a coragem para o mesmo. Nina aparece como seu inconsciente conflituoso, o lado sombrio que quer justificar o fim, brigando internamente com o amor pela vida que ainda existe dentro dela e a impede.
E nessa trilha encontra outra dor, refletida no olhar do marido e filho que Nina deixou pra trás. E ela se reconhece ali, o que encontra lhe é familiar.
E é assim, em meio a essa dor compartilhada que Claire vai ganhando coragem. Não para seguir o caminho de Nina. Mas para resignificar , em uma nova existência, uma razão para viver.
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